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A fotografia primeira é criada e toma forma em sua mente, ao apertar o botão do click, o que para muitos é o começo, para o fotografo é o fim.

 

 

Minha crônica começa em Ouro Preto, um belo dia de Janeiro em 2013, ao passear pela cidade, passei defronte a igreja de São Francisco de Assis. No fundo da igreja uma passagem sob uma arvore frondosa mostrava um portão que dava acesso a uma pequena rua onde era levado a Igreja das Mercês.

Ao caminhar pelas laterais da Igreja de São Francisco, descortina uma paisagem, ao fundo o pico do Itacolomy, nome que traduz a essência de Minas Gerais, e em primeiro plano a Igreja das Mercês.

 Difícil não parar, contemplar e logo sacar a câmera para retratar aquela imagem, em primeiro plano a Igreja das Mercês e ao fundo o Pico do Itacolomy. A foto saiu, duas estruturas emergiam da igreja, a torre direita e uma cruz mais abaixo e central da igreja. Ao fundo o Pico do Itacolomy emerge soberano e ao seu lado uma pequena formação rochosa, assim, parecia que um refletia o outro. 
 

    
Nesta mesma viagem, ao passar por Belo Horizonte fui apresentado ao concurso “Paisagens Mineiras”, organizado pelos Diários Associados, Tv Alterosa e Jornal o Estado de Minas. Ao chegar a Passos o concurso encontrava-se na quarta e última eliminatória. Ao todo mais de seis mil fotos, mas mesmo assim não tive dúvidas, a foto foi inscrita.

Para surpresa e alegria, após alguns dias a noticia, a foto intitulada “Itacolomy e a Igreja” fora selecionada ficando entre as oito melhores da seletiva para a votação. O processo de escolha agora caminhava para o voto popular, as pessoas deveriam entrar no site e votar a vencedora da seletiva.

 

Em tempos de redes sociais não tive dúvidas, pedi aos amigos para votar e divulgar “na rede”, e assim foi feito, a foto obteve cerca de cinco mil votos ficando em terceiro lugar, e segundo os dados encaminhados a mim, alguns votos foram originados de Passos, porém quase todos os votos foram provenientes de outras cidades brasileiras. Na verdade senti um grande orgulho, afinal tive um reconhecimento que extrapolou a nossa cidade.

   
 Começaram os desafios, como fotografar uma serra a mais de 10 quilômetros, onde o primeiro plano estava a cerca de dois quilômetros. Somente uma teleobjetiva poderia resolver o problema. Outro desafio mais importante surgiu: a visibilidade, afinal no meio do caminho estava a usina açucareira e suas queimadas, estradas, poeiras, partículas, além do céu encoberto, enfim a foto seria um desafio.

O material particulado é todo poluente disperso no na atmosfera, formado por materiais sólidos e líquidos suspensos por causa de seu tamanho. Os emissores são os mais variados e o tamanho das partículas além de serem nocivos reduzem a visibilidade na atmosfera.você já deve ter visto fotos das grandes cidades da China, a visibilidade é quase zero. Este conceito aprendi na astronomia, ao fazer observação estelar espere os logo após os dias chuvosos. A chuva lava a atmosfera e as partículas reduzem, a visibilidade é incrível nestes dias.

Assim preparei todo o material para a fotografia, uma câmera, uma teleobjetiva de 300 mm em uma câmera com sensor Aps-c cujo fator de crop 1.6 resultava em uma tele de 480 mm, um tripé, um monopé, um disparador de mão, alguns filtros Cokin (que não foram usados) e o principal, paciência.

A outra fase começa a ser criada, a composição da foto, e ai a perspectiva era meu trunfo. Na composição fotográfica as linhas paralelas são chamadas de linhas de fuga e criam a idéia de perspectiva. Pense na câmera, o sensor é uma superfície onde a imagem vai ser retratada, o sensor é plano e a imagem formada será plana. Nossos olhos nos dão a noção de profundidade e para isto temos que orientar nossos olhos. As linhas que percorrem uma fotografia nos dão a indicação. Lembre-se a fotografia é tridimensional em uma superfície bidimensional.

Ao fazer os primeiros testes vi a possibilidade de usar este conceito a meu favor fazendo o contrário, escondendo as linhas de fuga, a imagem formada pareceria que todo o conjunto estaria em um único plano, mesmo separado por quilômetros. Este recurso você já deve ter visto diversas vezes onde uma pessoa em primeiro plano parece segurar um objeto em suas mãos. Se o objeto precisa ficar gigante, ele deve estar mais à frente e se ele precisa ficar menor ele deve estar atrás, o fotógrafo então enquadra sobrepondo e criando a ilusão.

 

Assim parti para a tarefa, os meses de agosto e setembro não foram bons para a fotografia, mas em um dia de outubro, após uma seqüência de dias secos a chuva chegou. Choveu intensamente Domingo, Segunda e a manha de terça feira. Saio de casa por volta das 17 horas com todo a parafernália e sigo para o estacionamento da rodoviária, o dia perfeito, algumas nuvens no céu cumpriam o papel de um grande rebatedor de luz. O sol se ponto a esquerda da igreja permitia a entrada de uma luz forte e dourada, típica do final de dia. Aqueles dias que você olha para o céu e fala, nossa: “o Sol esta lindo hoje”.

A luz entrava lateralmente, as nuvens vez ou outra encobriam naqueles instantes tudo para resolver, qual balanço de branco usar, ISO, velocidade, abertura, ponto de foco, enfim, um quebra cabeça. De imediato um dilema, preciso de profundidade de campo, portanto um pequena abertura, com isto a velocidade seria baixa, algo sem pensar em fotos com tele objetivas. As primeiras fotos um tripé, por fim usei um monopé para facilitar o caminhar pelo terreno.

Cada foto era diferente, alguns a luz entrava melhor, outro alguma coisa era encoberta, e ai fiz uma observação, ao caminhar pelo estacionamento a medida que ia mais para a esquerda a crista da serra de Santa Maria era encoberta pela cúpula da igreja, ótimo tinha achado o lugar para criar a ilusão da perspectiva, a idéia era fazer a crista da serra encontrar com a curva da cúpula, um cantinho entre o estacionamento e o pátio de ônibus da rodoviária era o lugar.Foram várias fotos, trabalho árduo, a procura do momento ideal, lembro mais uma vez de Bresson, fotógrafo Francês que antes de tudo foi fotógrafo de guerra e se tornou um dos ícones da fotografia. Bresson criou um conceito chamado “momento decisivo”, para ele um fotógrafo pode captar a coincidência de linhas ao mover apenas a cabeça, pode modificar a perspectiva com um leve dobrar de joelhos, ele desenha um detalhe apenas determinar a distância entre a câmera e o objeto, mas mesmo assim existe um instante no qual todos os elementos ficam em equilíbrio, este é o momento decisivo.

 Apesar do conceito ser utilizado para fotos em movimento, eu acreditei que a luz, o local, as nuvens, teriam um momento perfeito de equilíbrio, eu teria um momento perfeito. Fotografo entre as 17 e as 19 horas, estávamos no começo do horário de verão, as fotos, simplesmente únicas. Guardo as fotos por alguns dias e começo e ver as mesmas e fazer as escolhas, o concurso exige que enviemos o Exif das fotos, lá estão todas as informações gravadas, o que é permitido é apenas o crop, porém o mesmo é reduzido devido ao tamanho mínimo exigido.


Aos leitores desta crônica, faço um convite, converse com um fotografo, não utilizamos softwares como Photoshop, alias este programa é usado principalmente em publicidade para criar ilustrações. Os recursos de ajustes são feitos em programas como o Lightroom que é a versão da “sala escura” de revelação nos dias de hoje, no Lightroom é impossível criar ilustrações. Talvez você pergunte, mas é necessário? Talvez os leigos não saibam, mas as câmeras DSRL fotografam em formato RAW.

 

Raw, ou ao pé da letra formato cru, é uma denominação das imagens digitais que contém a totalidade dos dados da imagem tal como captada pelo sensor da câmera fotográfica. Diferente do JPEG o formato contém todos os dados da imagem e seus arquivos são muito grandes, sem compressão, sendo chamado de "negativo digital" por serem equivalente a um filme negativo na fotografia analógica. Da mesma forma o negativo digital no formato Raw não é usável como imagem, mas contem todas as informações necessárias para revelar. O formato é tão real que é o único aceito pela justiça brasileira como prova em um tribunal.

 

Assim a revelação digital foi feita, a fotografia então foi enviada para o concurso “Paisagens Mineiras – quarta edição”, conjuntamente com outras duas, uma da Igrejinha da Penha e outra de uma paisagem da região.

 

Os dias passaram e a foto foi escolhida já na primeira seletiva do concurso, uma alegria só, contei aos amigos e começamos todo o trabalho com a rede social. Minhas esperanças foram acesas, afinal acreditei, os passenses iriam votar na fotografia, as chances eram reais. O esforço da seleção pelo júri técnico era grande, afinal o concurso teve nesta edição nada mais do que nove mil fotos concorrentes.

 

 A votação da primeira seletiva terminou, novamente não fui classificado pelo voto popular, por incrível, o numero de votos que tive fora semelhante ao ano anterior e por coincidência pela auditoria dos resultados realizada pelos organizadores do concurso, novamente tive mais votos fora de Passos do que na cidade onde a mesma fora realizada.

 

Depois deste episódio um telefonema da organizadora do jornal o Estado de Minas me revelou dois fatos, a pessoa do jornal, (que não cabe aqui citar seu nome) me ligou para lamentar afinal muitos jornalistas estavam torcendo por ela, e lembrar que deveria fornecer alguns dados para o júri técnico. O concurso era formado por duas votações, uma por voto popular e outra por júri técnico. Era Janeiro de 2014.

 

O Júri técnico iria escolher entre todas as fotos finalistas (novamente eram trinta fotos) a vencedora em categorias, a foto “Santuário da Penha e Chapadão da Babilônia” iria concorrer a cidades históricas. Pelas regras do concurso fotos que apresentassem igrejas seriam concorrentes na categoria cidades históricas, pois as outras eram culinária, cultura, paisagens urbanas e natureza.

O júri técnico da 4ª edição do Paisagens Mineiras foi composto por: Álvaro Duarte: Editor de Artes Gráficas do jornal Estado de Minas, Sidney Lopes: Editor de Fotografia do jornal Estado de Minas, Carlos Altman: Coordenador do Estado de Minas Digital,Donald Isnenghi: Presidente do Clube de Criação de Minas Gerais, Eugênio Sávio: Professor e Fotógrafo renomado, Fernanda Machado: Presidente da Fundação Clóvis Salgado e Guilherme Carvalho: Gerente de Atendimento e Articulação da Petrobras.

Novamente recebo o convite para o evento em Belo Horizonte, novamente na sede dos Diários Associados, na entrada um grupo de amigos da hora, um grupo de Lavras, um fotografo de Pirapora, bate papo e lembro que o Mansur (um fotografo finalista) me perguntou e ai qual a expectativa? A resposta imediata, é um prazer esta aqui, vim pela festa.
 
A cerimônia inicia, a palavra é do Diretor de Publicidade do Jornal O Estado de Minas, Sr. Mário Neves, e de imediato ele já começa com a entrega dos prêmios. O júri é de peso, formado por editores do Jornal, fotógrafos, artistas, enfim assisto como um mero espectador até que no telão aparece a foto do “Santuário da Penha e Chapadão da Babilônia” e sou chamado para receber o prêmio.

Subir ao palco foi fácil, receber o prêmio pelas mãos de diretores do Jornal mais ainda, pose para fotos, mas o mais incrível foi descer a escadaria e encontrar um dos editores de fotografia do Jornal que virou para mim e disse: ”Linda a sua fotografia, a luz que você conseguiu é fantástica, eu votei na sua foto”, esta frase foi o êxtase, afinal ser reconhecido por quem comanda um batalhão de fotógrafos do jornal foi gratificante.

 

De imediato duas ações, uma telefonar para casa e contar as novidades em meio ao coquetel e lançamento da exposição, e segundo ouvir a brincadeira dos meus novos amigos que participaram também do concurso, “você falou que vinha para a festa e ganhou, um autêntico mineiro”.

Depois da festa restou-me retornar a Passos, não poderia deixar de contar a novidade afinal Passos, estava retratada e era vencedora em um concurso nacional. As noticias chegam a rede social.
 

   
Não pensem que os próximos parágrafos são de amargura ou tristeza, são apenas a comprovação de uma frase de outro fotógrafo americano, Ansel Adams, que disse: Não fazemos uma foto apenas com uma câmera; ao ato de fotografar trazemos todos os livros que lemos,os filmes que vimos, a música que ouvimos,as pessoas que amamos.

 

Ao divulgar a foto nas redes sociais, ouvi e li diversos comentários, alguns fantásticos que mostravam o carinho das pessoas. Outros doíam aos meus ouvidos e feriam minha mente apesar de serem poucas pessoas, as palavras soltas ferem eternamente. Ouvi frases como, a foto é mentira, é montagem, é falsa, frases escritas de longe no canto das redes sem o menor senso ou bom senso. A minha primeira reflexão foi, “bom, as redes sociais estão inundadas de coisas, vamos deixar para lá”.

Mas depois de explicar, explicar e explicar, fazer convites, chamar as pessoas para irem ao local, estimular para que também fizessem uma foto, além de dizer: “vejam o quão belo é o local, com certeza a paisagem mais bonita de Passos”, me calei até esta crônica.

 

Fiquei pensando, todas as pessoas que vão ao local podem ver, obviamente não espere tirar uma foto com Smartphone ou Celular e ter a mesma fotografia, a fotografia precisou ser planejada, com equipamento fotográfico de qualidade e momento perfeito, é uma foto ímpar, porém você tem o melhor equipamento de fotografia junto com você, os seus olhos, basta ver.

 

Nesta saga a crônica surgiu de um comentário em uma rede social, tomado pela indignação inicial desta vez escrevi. Ao ler este texto você vera como uma fração de segundos foi o resultado de uma experiência única, de eventos que sobrepõem e quase conspiram. O resultado foi fruto de vários eventos que a fotografia nos permite, somente quem vive a fotografia pode perceber o quão complexo é o simples apertar de botão de uma câmera fotográfica. Esta crônica não é flash que pode iluminar a obscuridade, ao contrário da fotografia é a prova de que uma imagem vale mais que mil palavras. Assim este relato ilustra uma frase escrita acima no texto: A fotografia é o registro de uma fração de segundo e passa tão rápido que mal percebemos, mas revela uma beleza que talvez possamos admirar aquela fração por toda a vida.

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